Epigenética e Hidradenite Supurativa

Hoje vamos falar sobre o papel da epigenética na expressão da hidradenite supurativa. Vou te explicar o que é a epigenética e como ela funciona e, mais importante, como esse conhecimento pode nos ajudar no tratamento da hidradenite supurativa.

Vamos lá?

O que é epigenética e como ela atua

A epigenética é a ciência que estuda como o ambiente interfere na expressão dos nossos genes. Isso significa que mesmo que você carregue um gene “adormecido”, fatores externos podem funcionar como gatilhos para ativá-lo. E essa ativação pode se manifestar como uma condição clínica, inclusive uma doença inflamatória.

Mais impressionante ainda é saber que, uma vez expressa, essa doença também pode ter sua forma de manifestação (o fenótipo) influenciada pelo ambiente em que você vive, seja pela alimentação, poluição, radiação solar, estresse, sedentarismo, comportamento, hormônios ou tabagismo.

Um exemplo clássico? Gêmeos com o mesmo DNA, quando expostos a estilos de vida diferentes, podem apresentar doenças e condições distintas ao longo da vida. Isso é epigenética em ação.

Assista ao vídeo que eu publiquei no meu Instagram, falando tudo sobre esse assunto:

 

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Uma publicação compartilhada por Ariane Geller – Dermatologista (@arianegeller_dermato)

A conexão entre epigenética e hidradenite supurativa

Você pode estar se perguntando: o que tudo isso tem a ver com a hidradenite supurativa? A resposta é simples: tudo.

Quem tem histórico familiar de hidradenite supurativa carrega consigo o gene. No entanto, é o ambiente quem pode “ligar” esse gene, como uma alimentação rica em carboidratos ou o início do tabagismo. Esses gatilhos não apenas ativam o gene, como também podem tornar a doença ainda mais inflamatória e agressiva.

Por isso, na minha prática clínica, sempre inicio a primeira consulta com perguntas sobre sono, atividade física, alimentação, vida social e ambiente de trabalho. Entender o estilo de vida do paciente me permite identificar pontos de possível modificação que podem impactar diretamente na forma como a doença se manifesta.

Modificar o ambiente é também modificar o curso da doença

É importante deixar claro: quando já existem comorbidades como obesidade, doenças psiquiátricas ou o hábito de fumar, não estamos mais falando de prevenção, e sim de tratamento. Essas não são escolhas simples ou imediatas, elas exigem acompanhamento, comprometimento e cuidado.

Mas o que é uma escolha possível é o desejo de mudar a trajetória. Eu, como médica, talvez não possa impedir o surgimento da hidradenite supurativa, mas posso, junto com o paciente, traçar um caminho para que ela se torne menos agressiva, menos limitante, menos dolorosa. Isso é empoderar o paciente com informação e apoio.

E é exatamente aqui que a epigenética se torna tão poderosa: ao mostrar que temos, sim, capacidade de interferir nos nossos genes por meio das nossas escolhas.